Sim, eu já conhecia a cidade de São Paulo, alguns de seus Museus, Teatros, Universidades, Parques, Lojas e baladas, já cruzei a Ipiranga com a São João, assim como a Paulista e a Augusta. Mas não, eu literalmente não conhecia o mundo das compras: “Feirinha da Madrugada”, “Brás” e “25 de Março”!
Acompanhado de uma amiga (também atual e temporária patroa pela Escola de Balé Isabel Gusman), Fátima, passei o dia 08 deste mês me sentindo naquele quadro do Fantástico, “Repórter por um dia”, o que no meu caso cabia mais “Sacoleiro por um dia”!
As minhas dúvidas começaram cedo, pensando na roupa. Como ir? Calça? Shorts? Com ou sem blusa de frio? O que levar? Levo bolsa? Ou coloco a carteira, documentos e dinheiro no bolso? E o celular, onde é mais seguro? Levo escova de dente? Sacoleiros têm tempo de escovar os dentes? A Fátima é prática, e disse apenas: “Leve o que conseguir carregar durante um dia inteiro”. Quando perguntei se levava bolsa, ela disse: “Você precisa mesmo dela?”. Entendi o recado, e nada de bolsa, apenas documentos e dinheiro (espalhados pelo corpo... tava me sentindo uma mula, escondendo drogas).
Antes de ir, dicas negativas de parentes e amigos, do tipo: “CUIDADO HEIM”, não faltaram!
Já no ônibus (de excursão), o intitulado “guia” decide aumentar um pouco mais minhas pequenas preocupações, o pior era, eu não sabia ao certo se acreditava em tudo e ficava com medo, ou se controlava minha gargalhada, já que ele falava de um modo muito engraçado, com a boca quase fechada, mordendo os dentes, deixando a voz sair apenas pelos espaços entre os dentes, e tudo tinha som de “x”. O que para nós seria: gente, certo ou justo, na língua dele era: “Xente”, “Xerto”, “Xusto”. Juro, num discurso de 10 minutos, sobre terrorismo e prevenção (sim, ele fez terrorismo. E você por acaso já viu um guia fazer isso? Ele dizia: “foi difíxil xemana retraxada pexoal, foi thiro para thudo quanto é lado pexoal!”), no mínimo ele deve ter falado 689 vezes a palavra “pessoal”, ou melhor, “pexoal”. Pois bem, achando pouco, a outra “guia” da excursão, a “guia chefe”, que eu carinhosamente apelidei de Miss Simpatia (às avessas, é claro!), decide pegar o microfone para fazer uma oração, também pudera, mais que necessário depois de tudo que ouvimos. E ai você adivinha como começou a oração? “Vamos pedir à Deus proteção ... porque gente, semana passada jogaram tanta pedra que você nem via nada!”. Olhei pra Fátima e com os olhos mais que arregalados perguntei: “Desço agora ou depois?”, ela só conseguia rir da minha cara de pânico. Eu transpirava, e não sabia se era por medo, ou por não poder dar uma boa risada alta de toda aquela introdução semi terrorista cheia de “x”. Nesse momento a Fátima (gripada, estava quase ficando sem nariz, pois já tinha gastado caixas e mais pacotes de lençinhos) se dá conta que esqueceu seus documentos pessoais, pois havia trocado de bolsa. Ai vem a minha confirmação: eu iria me divertir muito nessa viagem!
Chegamos às 2h em SP, continuamos dormindo até as 5h, quando enfim o ônibus decidiu parar de fazer infinitas manobras dentro do estacionamento, detalhe: com o ar desligado! Fomos à Feirinha da Madrugada, só para conhecimento, afinal, já estávamos lá mesmo. Vende-se de TUDO naquele lugar, de tudo mesmo, e não há como não comprar nada. Voltei com uma bolsa, tipo de viagem, que em Assis já vi por R$ 50,00, por uma bagatela de R$ 12,00! Aos que conhece a minha amiga Fátima, sim, ela parecia um coelhinho daqueles de quermesse, que sai da toca e corre ligeiro entrar em outra toca. Ela ficava assim, de barraca em barraca, nem piscava os olhos e muito menos ouvia quando o coreano, de cara fechada, dizia: “Coloca na cestinha moça!”, “Moça, usa a cestinha!”, “Tó moça, a cestinha!”, “바구니에넣어소녀 !!!!!”
Voltamos para o ônibus com 3 sacolas cheias, sendo uma minha e duas da Fá.
De lá fomos ao Mercado Municipal, que eu também não conhecia; detalhe, cada um carregando nas costas quatro rolos de tules verdes (iríamos trocar por outras cores), que são leves na verdade, mas pelo tanto que andaríamos com eles, no final pareciam pesar 15k cada rolo. Voltando ao Mercado, não, eu não comi pão com mortadela! Não gosto de mortadela! Fiquei mesmo foi impressionado com as barracas e iguarias, frutas que talvez Assis passe a vida sem conhecer, se não o tipo, a qualidade. Morangos que pareciam de porcelana, grandes e carnudos. Queijos, vinhos, grãos, sementes, peixes, carnes, pastéis dos mais variados recheios, enfim, uma infinidade de produtos e alimentos visualmente lindos e acredito que de boa qualidade. Depois de tomarmos café, surge uma dúvida cruel, subir ou não a ladeira para ir a Catedral de São Bento?
Se estávamos na chuva, borá nos molharmos... E como valeu a pena. A Igreja por si só já valeria toda a viagem, sua arquitetura, rica em detalhes, deixa a Missa visualmente mais bonita. Seus vitrais, esculturas, pinturas e imagens nos levam a um lugar muito distante de onde a Igreja está localizada; nesse momento, nem parece que estamos no vulcão de São Paulo. Fora tudo isso, ainda há os rituais Beneditinos, os cantos gregorianos e a expectativa de ver os monges, ao acabar a Missa, entrarem em fila na clausura, na maior ordem, humildade e obediência... Simplesmente lindo, pelo menos para nós, que olhamos tudo do lado de fora, livres.
“25 de Março” ... Começa o salve-se quem puder! Tecidos aqui e ali dos mais variados tipos e cores, organzas, tafetás, acoplados, brocados, bemberg’s, gazar’s, cetim, pelúcias, voil, naylon, tricolini, helancas, tules e mais tules...
Pausa para o almoço: e novamente, “se estamos no inferno, abraça...” vamos comer no Mc Donald’s. Fila? Não! Era impossível até formar uma fila de tanta gente entafuiada naquele Mc. Como num campo de batalha, decidimos nos separarmos: você faz o pedido eu fico aguardando para retirada, depois você fica aguardando e eu subo conseguir um lugar para sentarmos. No fim, conseguimos tudo (ou quase tudo, só depois que acabamos de comer que a Fá, sim, a loira sem documentos, lembra que dentro do saco tem ketchup e mostarda. Legal!).
Coroas, perucas, brilhos, canudos, elásticos, fitas de cetim, entretelas, barbatanas, tiaras, asas, cordões, cartola, etc, etc, etc... Nossa maior preocupação agora era com os volumes no ônibus; cada pessoa tem direito de levar 3 volumes, e só. Somando, podíamos levar até 6 sacolas ou caixas. As nossas já ultrapassavam o limites de umas 4 pessoas! Minha amiga que não é boba nem nada (tirando o fato dos documentos, ketchup e mostarda) tratou de comprar aquelas sacolonas (feitas acho que exclusivamente para sacoleiros), diminuindo assim nossos volumes para apenas 5! Ufa, 5 volumes em quase 6 horas de compras; resultado: eu não tinha mais meus 2 pés e 2 ombros! Hora de voltar...
De toda a viagem, todo o terrorismo feito pelos “guias” e por amigos, todas as frases de “CUIDADO” foram fichinha perto do que passaríamos agora. Decidimos (afinal não tínhamos outra opção) pegar um táxi para voltarmos até onde o ônibus estava estacionado. Pensa num Senhorzinho, surdo e briguento, não, esse não era nosso taxista. Nosso taxista era 3 vezes mais que isso! O velhinho só faltou subir nas calçadas, e por um milagre divino não bateu em nenhum carro. Corria feito um louco e eu, no banco da frente, não sabia o que era melhor: fechar os olhos ou deixá-los abertos! Fora todas as voltas e mais voltas, chegamos vivos. Mas no transito de SP acho que todos os taxistas devem ser assim, como aquele episódio do Pateta no trânsito: doidos!
Morais da história:
- Descobri que sacoleiro não pode se dar o luxo de escovar os dentes;
- Que o desenho do Pateta foi baseado em fatos reais;
- Que as estátuas vivas da “25” se divertem dando susto nas pessoas;
- Que vai levar um bom tempo até eu descobrir a diferença entre organza e voil, ou naylon e helanca;
- Que o Mc é igualmente gostoso até na louca “25 de Março”;
- E que de todos os “Meus Quereres”, publicado no blog alguns dias atrás, graças ao Mercado Municipal hoje sou mais feliz... Tem blueberry no meu congelador!!!
Valeu Fá, apesar dos pesares e do meu ombro ter voltado ao normal alguns dias atrás, não levamos nenhum tiro ou pedrada, encontramos as lojas funcionando normalmente, achamos as “Maravilhas” para “Alice”, não falamos a língua do “x”, e demos ótimas risadas na Capitar!