Um drama familiar é sempre um drama, uma dor, um horror, um
medo, tortura, lamentos. Um drama familiar sempre tem como base o amor, a falta
dele, o exagero, ou até mesmo a irritabilidade de amar na medida. Não que o
amor seja culpado de tudo. Nós somos. Nós não o entendemos, ou ainda pior, não
nos permitimos senti-lo, acolhe-lho como um bebê em nosso colo, e sem
questionamentos, aceita-lo.
Essas histórias são diferentes, de artes diferentes, cada qual
com sua dor, leveza, alegria, amor e razão. Ambas valem cada minuto do seu
tempo.
O livro "O tigre na sombra", conta a história de Dôda,
narradora e protagonista, que tem uma perna menor que a outra,
"defeito" de nascença. Cercada por assuntos recorrentes na literatura
de Luft: família, drama, morte, preconceito, dor, traição, perdas e ganhos,
Dôda terá sua trajetória marcada por cada um desses aspectos. Todos um dia ou
outro criamos tigres, com olhos azuis ou não, no fundo de nosso quintal, a
espreita, esperando pelo ataque, esperando pela presa certa. A fome esperando
pela vida, a vida sem fome de esperança. Com o decorrer do romance, sua vida
vai tomando novos rumos, e a pequena manca torna-se dona de sua história.
Independência. Coisa aliás que sempre teve e nunca soube.
“Tigre na sombra, O”, Lya Luft – Editora
Record, 2012.
O filme "Meu País" é de uma delicadeza poética belíssima.
Gosto do cinema nacional, gosto cada vez mais. Hoje, gosto mais um pouco. Com a
morte de seu pai, Marcos precisa volta ao Brasil. Quando chega, além da dor da
perda, é obrigado a enfrentar a quase falência da empresa da família, o irmão
viciado em jogo e com dívidas, e a nova revelação: seu pai teve uma filha com
uma amante, anos atrás, e esta, Manuela, estava internada em uma clinica
psiquiátrica. Entrementes, Marcos precisa voltar à Itália, à sua vida, esposa,
trabalho. Reencontros. Recomeço. O filme foge
do caráter de patriotismo, apesar do título, que na verdade tem mais
significado quando entendido como "raízes". Cercado de dor e dúvidas,
um amor puro, novo, lindo e inexplicável pela "nova" irmã, paciência
com o irmão irresponsável e imaturo, Marcos terá que colocar ordem na casa,
limpar sinais de sangue e silêncio, invisíveis a olho nu.
“Meu País”, Imovision, 2011. Com
Rodrigo Santoro, Cauã Reymond, Débora Falabella e Paulo José.
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