ESTOU APAIXONADA, e agora?
Da série: Amigas apaixonadas - Se conselho fosse bom...
Texto 1
Dias atrás recebi a ligação de uma amiga apaixonada.
Quem me conhece sabe que eu sou aquele tipo de amigo “conselheiro”, onde as
pessoas se sentem bem em conversar e pedir opiniões sobre relacionamento; ainda
mais no caso dela, com um relacionamento que está apenas começando. Mas enfim,
tudo na vida parte de um início.
Eu gosto desse tipo de assunto que tem um “fundo
psicológico” e além de poder ajudá-la eu sempre levo várias coisas para minha
vida e posso refletir sobre o meu relacionamento ou as nossas relações de
amizade, de um modo geral. Resumindo, questões e conversas desse tipo são para
mim, na mesma forma e medida, ensinamento e aprendizado. Mas, voltemos ao
questionamento da minha amiga...
Ela “estava” sentindo-se apaixonada pelo cara que
conheceu há um mês, ele mora em outra cidade e talvez à distância (sei que não
é esse o motivo, isso acontece com todos) fez com que ela começasse a
questionar-se em várias coisas, do tipo:
-Era sexta-feira à noite, onde ele estava?
-Por que a ausência de mensagens? (Ah maldito
celular e seus infinitos aplicativos de comunicação, que eu chamaria de
“Formador Ofensivo de Ansiedade”)
-Por que não a convidou para ir até a cidade dele?
O que há para esconder?
-Por que não veio até seu encontro neste final de
semana?
Como disse, questionamentos como esses acontecem também
para casais que moram próximos, na mesma cidade, ou em cidades vizinhas. Quando
se gosta, a vontade inicial é estar próximo, perto, junto, grudado... Mas
acalme-se, não precisa necessariamente ser assim. A ausência (seja presencial
ou virtual) no começo de um relacionamento é naturalmente compreensível, e ahhh,
quem diria que um dia eu pudesse ter a maturidade de dizer isso.
Era sexta à noite, eles não combinaram um encontro,
ainda era cedo para ela “exigir” um encontro; ele havia sumido há horas, o que
fazer? Era o que ela pensava...
A) Ligar “como quem não quer nada” (pior mentira) e
tentar descobrir onde ele estava ou o que houve?
B) Enviar mensagem na tentativa de investigar onde ele
estava, o que fazia, e por que havia sumido?
C) Caso ele envie uma mensagem bem mais tarde, não
visualizar no mesmo instante, e se visualizar, não responder.
D) Nenhuma das alternativas anteriores.
“D”! Por favor, sempre escolha a alternativa “D”!
Acalme-se, são naturais e aceitáveis essas questões
no início do relacionamento, você não está ficando neutórica, mas também, é
preciso perceber se isso não evolui para um sentimento de “obsessão”.
Vamos pensar friamente e usar o cérebro ao invés do
coração, esta é a grande jogada da vida: tentar acertar em qual momento usar um
ou outro.
Então, usando a razão, alguns questionamentos importantes
a serem feitos neste momento:
A) Até que ponto ela pode “investigar” onde ele está?
Até que ponto ela têm esse “direito”?
B) “Estamos apenas nos conhecendo”... Então, até onde ela
pode exigir “estar” presente em todos os momentos (ou finais de semana) na vida
do outro?
C) O que uma ausência de mensagens realmente significa,
para quem ainda não está em um relacionamento sério?
Já faz algum tempo que cheguei à seguinte conclusão:
há um “teste mútuo” realizado inconscientemente no início de todo
relacionamento, e você só passará para a etapa seguinte (ligações, conhecer
amigos e família, alianças, etc.) se conseguir nota máxima neste “teste”.
Funciona assim, simplesmente assim:
De um lado temos o “Indivíduo A”, que quer a todo
custo, e de maneira muito rápida, “testar” se aquela pessoa “vale à pena”. Nosso inconsciente quer, sem rodeios ou tempo a
perder, saber se é válido investir tempo e carinho, e também comprovar se o
outro está disposto ou não a construir um relacionamento duradouro. Queremos
também saber, e logo nos primeiros dias, se há indícios de que vamos sofrer e
enfrentar mais uma desilusão. Então, o “Indivíduo A” é o ansioso, é aquele que
manda mensagens e mais mensagens, sente falta de ligações e quer, todo tempo,
falar ou estar junto. Essa ansiedade gera os questionamentos desnecessários
pontuados acima, e mesmo que em tom de “brincadeira”, são na verdade cobranças:
o “Indivíduo A” está cobrando presença, atenção, carinho e amor em um curto
espaço de tempo, afinal, acabaram de se conhecer.
Do outro lado, temos o “Indivíduo B”, que por
infinitos motivos, tem aversão a qualquer tipo de cobrança. Para ele, o
relacionamento só vai começar a “existir” depois de um tempo, até lá, não há
nada, não há compromisso, e assim sendo, não há necessidade para ele em enviar
mensagens o tempo todo, fazer ligações, ver todo dia ou todo final de semana. A
vida dele segue como antes. Isso não significa que ele não esteja a fim de
você; significa apenas que ele ainda quer preservar sua individualidade, ainda
quer sair com os amigos ou simplesmente dormir após um dia de trabalho, sem ter
a “obrigação” de avisar alguém sobre isso. E ai está a parte dele em testar o
outro indivíduo. Se a pessoa começar com cobranças, antes de assumirem um
relacionamento, ele se vê em uma “enrascada”, seu inconsciente apita um sinal
de alerta em que diz: “Vá com calma! Você está mesmo disposto a abrir mão da
sua liberdade?”. Isso se converte em um entendimento simples: “Bom, se está
assim com algumas semanas, imagina como estará depois de anos?”.
Só há um modo, um único jeito em tirar nota máxima
neste teste, isso vale para Indivíduos A e B: paciência!
É preciso empatia nestes primeiros dias, é preciso
entender que todo relacionamento precisa de um tempo, são duas pessoas
diferentes, com caráter, cultura e educação diferentes, e assim, com maneiras
diferentes de lidar com os problemas ou adversidades da vida. É preciso
entender que algumas pessoas precisam de um tempo para elas, um momento em que
podem fazer algo com amigos, ou simplesmente não fazer nada, sozinho.
Naquela sexta-feira à noite, a cabeça de minha
amiga virara e virara em pensamentos férteis e fantasiosos, misturados a
insegurança e com uma (grande) pitada de paixão. Eles não se falaram. Eles
dormiram sem se falar. Ela não soube de seu destino. No sábado pela manhã, ele
enviou uma mensagem dizendo que ficou em casa, estava cansado, e acabou
dormindo após o banho relaxante de um dia cheio de trabalho e problemas.
Compre uma linda e grande fazenda, nela, crie
unicórnios, casais de cisnes de todas as cores, uma dúzia de ornitorrincos
voadores, alguns dinossauros herbívoros... Mas NÃO crie expectativas
desnecessárias. Expectativas, em questões de segundos, transformam-se em
fantasmas, e estes podem assombrar e destruir qualquer relacionamento, ou
então, qualquer intenção de relacionamento.
Autor: Fernando Vaz Riveros
Escritor e criador do Blog/Instagram “Meu Divã Cultural”.