terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Estou apaixonada, e agora?


ESTOU APAIXONADA, e agora?

Da série: Amigas apaixonadas - Se conselho fosse bom...
Texto 1

Dias atrás recebi a ligação de uma amiga apaixonada. Quem me conhece sabe que eu sou aquele tipo de amigo “conselheiro”, onde as pessoas se sentem bem em conversar e pedir opiniões sobre relacionamento; ainda mais no caso dela, com um relacionamento que está apenas começando. Mas enfim, tudo na vida parte de um início.
Eu gosto desse tipo de assunto que tem um “fundo psicológico” e além de poder ajudá-la eu sempre levo várias coisas para minha vida e posso refletir sobre o meu relacionamento ou as nossas relações de amizade, de um modo geral. Resumindo, questões e conversas desse tipo são para mim, na mesma forma e medida, ensinamento e aprendizado. Mas, voltemos ao questionamento da minha amiga...
Ela “estava” sentindo-se apaixonada pelo cara que conheceu há um mês, ele mora em outra cidade e talvez à distância (sei que não é esse o motivo, isso acontece com todos) fez com que ela começasse a questionar-se em várias coisas, do tipo:
-Era sexta-feira à noite, onde ele estava?
-Por que a ausência de mensagens? (Ah maldito celular e seus infinitos aplicativos de comunicação, que eu chamaria de “Formador Ofensivo de Ansiedade”)
-Por que não a convidou para ir até a cidade dele? O que há para esconder?
-Por que não veio até seu encontro neste final de semana?
Como disse, questionamentos como esses acontecem também para casais que moram próximos, na mesma cidade, ou em cidades vizinhas. Quando se gosta, a vontade inicial é estar próximo, perto, junto, grudado... Mas acalme-se, não precisa necessariamente ser assim. A ausência (seja presencial ou virtual) no começo de um relacionamento é naturalmente compreensível, e ahhh, quem diria que um dia eu pudesse ter a maturidade de dizer isso.
Era sexta à noite, eles não combinaram um encontro, ainda era cedo para ela “exigir” um encontro; ele havia sumido há horas, o que fazer? Era o que ela pensava...
A) Ligar “como quem não quer nada” (pior mentira) e tentar descobrir onde ele estava ou o que houve?
B) Enviar mensagem na tentativa de investigar onde ele estava, o que fazia, e por que havia sumido?
C) Caso ele envie uma mensagem bem mais tarde, não visualizar no mesmo instante, e se visualizar, não responder.
D) Nenhuma das alternativas anteriores.
“D”! Por favor, sempre escolha a alternativa “D”!
Acalme-se, são naturais e aceitáveis essas questões no início do relacionamento, você não está ficando neutórica, mas também, é preciso perceber se isso não evolui para um sentimento de “obsessão”.
Vamos pensar friamente e usar o cérebro ao invés do coração, esta é a grande jogada da vida: tentar acertar em qual momento usar um ou outro.
Então, usando a razão, alguns questionamentos importantes a serem feitos neste momento:
A) Até que ponto ela pode “investigar” onde ele está? Até que ponto ela têm esse “direito”?
B) “Estamos apenas nos conhecendo”... Então, até onde ela pode exigir “estar” presente em todos os momentos (ou finais de semana) na vida do outro?
C) O que uma ausência de mensagens realmente significa, para quem ainda não está em um relacionamento sério?
Já faz algum tempo que cheguei à seguinte conclusão: há um “teste mútuo” realizado inconscientemente no início de todo relacionamento, e você só passará para a etapa seguinte (ligações, conhecer amigos e família, alianças, etc.) se conseguir nota máxima neste “teste”.
Funciona assim, simplesmente assim:
De um lado temos o “Indivíduo A”, que quer a todo custo, e de maneira muito rápida, “testar” se aquela pessoa “vale à pena”. Nosso inconsciente quer, sem rodeios ou tempo a perder, saber se é válido investir tempo e carinho, e também comprovar se o outro está disposto ou não a construir um relacionamento duradouro. Queremos também saber, e logo nos primeiros dias, se há indícios de que vamos sofrer e enfrentar mais uma desilusão. Então, o “Indivíduo A” é o ansioso, é aquele que manda mensagens e mais mensagens, sente falta de ligações e quer, todo tempo, falar ou estar junto. Essa ansiedade gera os questionamentos desnecessários pontuados acima, e mesmo que em tom de “brincadeira”, são na verdade cobranças: o “Indivíduo A” está cobrando presença, atenção, carinho e amor em um curto espaço de tempo, afinal, acabaram de se conhecer.
Do outro lado, temos o “Indivíduo B”, que por infinitos motivos, tem aversão a qualquer tipo de cobrança. Para ele, o relacionamento só vai começar a “existir” depois de um tempo, até lá, não há nada, não há compromisso, e assim sendo, não há necessidade para ele em enviar mensagens o tempo todo, fazer ligações, ver todo dia ou todo final de semana. A vida dele segue como antes. Isso não significa que ele não esteja a fim de você; significa apenas que ele ainda quer preservar sua individualidade, ainda quer sair com os amigos ou simplesmente dormir após um dia de trabalho, sem ter a “obrigação” de avisar alguém sobre isso. E ai está a parte dele em testar o outro indivíduo. Se a pessoa começar com cobranças, antes de assumirem um relacionamento, ele se vê em uma “enrascada”, seu inconsciente apita um sinal de alerta em que diz: “Vá com calma! Você está mesmo disposto a abrir mão da sua liberdade?”. Isso se converte em um entendimento simples: “Bom, se está assim com algumas semanas, imagina como estará depois de anos?”.
Só há um modo, um único jeito em tirar nota máxima neste teste, isso vale para Indivíduos A e B: paciência!
É preciso empatia nestes primeiros dias, é preciso entender que todo relacionamento precisa de um tempo, são duas pessoas diferentes, com caráter, cultura e educação diferentes, e assim, com maneiras diferentes de lidar com os problemas ou adversidades da vida. É preciso entender que algumas pessoas precisam de um tempo para elas, um momento em que podem fazer algo com amigos, ou simplesmente não fazer nada, sozinho.
Naquela sexta-feira à noite, a cabeça de minha amiga virara e virara em pensamentos férteis e fantasiosos, misturados a insegurança e com uma (grande) pitada de paixão. Eles não se falaram. Eles dormiram sem se falar. Ela não soube de seu destino. No sábado pela manhã, ele enviou uma mensagem dizendo que ficou em casa, estava cansado, e acabou dormindo após o banho relaxante de um dia cheio de trabalho e problemas.
Compre uma linda e grande fazenda, nela, crie unicórnios, casais de cisnes de todas as cores, uma dúzia de ornitorrincos voadores, alguns dinossauros herbívoros... Mas NÃO crie expectativas desnecessárias. Expectativas, em questões de segundos, transformam-se em fantasmas, e estes podem assombrar e destruir qualquer relacionamento, ou então, qualquer intenção de relacionamento.

Escritor e criador do Blog/Instagram “Meu Divã Cultural”.


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