terça-feira, 14 de março de 2017

Somos Deuses do Touch.

Crédito Imagem: makkahnewspaper

Estes dias recebi a seguinte mensagem pelo WhatsApp: "Quem souber de alguém que esteja desempregado, a Engmax Construtora vai contratar 150 profissionais para trabalhar na duplicação da Rodovia BR 406. Interessados enviar currículo para: ...". Nesta mensagem ainda constava o número de telefone para contato e o nome do responsável pela seleção, “Ricardo”. Não recebi apenas uma vez, recebi essa mesma mensagem em três grupos distintos.
Na hora pensei em uma grande amiga, que apesar da sua imensa capacidade e qualificação, é refém do Sistema (diga-se de passagem, injusto) Educacional e da má distribuição de aulas para professores, nas atribuições.
Logo, fui pesquisar a origem da mensagem, já que um "pequeno" detalhe me chamou atenção: o DDD do telefone para contato era "84", e moro em uma região onde o mesmo é "18". A BR-406 é uma Rodovia Federal de ligação brasileira, "localizada" no Rio Grande do Norte, que liga Natal a Macau. Em outra busca rápida, encontrei duas Construtoras "Engmax", uma com sede em Belo Horizonte, Minas Gerais e outra no Rio de Janeiro/RJ. Claro que nem cheguei a enviar a "oportunidade" para minha amiga. Acredito até que para algumas pessoas isso seja benéfico, mas não é o caso.
Esta mensagem me levou ao seguinte questionamento: nós filtramos as mensagens que recebemos antes de repassarmos para outras pessoas?
Hoje, toda pessoa com acesso à internet (dados móveis ou Wi-Fi) tem voz no mundo. A globalização está aí, e tudo está ao nosso alcance através da internet, assim como quase tudo é liberado.
Compartilhamos, repostamos e enviamos mensagens o dia todo, notícias e reportagens, mas já paramos para analisar a veracidade destas?
Figuras públicas, artistas, esportistas e médicos. Empresários, colaboradores e até mesmo a D. Maria, faxineira de uma conhecida aqui do bairro, são apedrejadas virtualmente, vítimas de calúnias criadas na Rede, ou vídeos compartilhados por nós, todo dia, o dia todo.
Já que estamos falando em "compartilhar"; ainda luto diariamente para entender o porquê pessoas tem o prazer de compartilhar vídeos (e também filmá-los) contendo brigas, calúnias, traições, vítimas de acidente de trânsito ou tantas outras desgraças. Paro e penso: Porque tanta maldade? Será que eu ficaria contente em saber que, um vídeo trágico de minha família, está circulando por aí, perdido em um mundo de celulares, e servindo de riso para tantas pessoas que me conhecem ou não? Minha gente, é preciso exercer mais o dom da empatia!
Injustiças, brigas e crimes são compartilhados através de vídeos pelo WhatsApp. E nós achamos isso divertido. Engraçado. A tragédia tornou-se entretenimento da humanidade moderna, e não basta ver, temos que passar adiante, e ainda se há tempo, temos que dar nosso parecer, nossa opinião, nos tornamos “Doutores da Verdade” através de uma tela. Somos “Deuses do Touch”. E tudo o que eu postar ou disser, se torna verdade para mim e para minha rede de amigos. Assim segue, sucessivamente, e deixamos de lado toda e qualquer voz interior que questiona: "mas isso é verdade?". Tanto faz nos queremos falar, queremos que nos enxerguem, queremos ser o primeiro a dar a notícia, queremos ser notícia, nós queremos o palco, o estrelato, o Oscar das Mídias Sociais. Nós queremos, doa a quem doer, apertar o botão "Compartilhar".
A internet hoje é uma terra sem rei, e há - visivelmente - uma luta sangrenta para este "cargo".
Pare! Pense! E pesquise! O Google está aí para isso. Leia sobre o assunto do qual quer compartilhar e se mesmo assim for verdade, questione-se:
1)Meus amigos, das minhas Redes Sociais, precisam ler essa notícia/vídeo?
2)É de extrema importância compartilhar essa notícia/vídeo?
3)Essa notícia/vídeo propaga ódio e tristeza?
4)Se eu ou alguém que tenho apreço, estivesse nesta notícia/vídeo, eu compartilharia mesmo assim?
Quando tenho a oportunidade, barro alguns vídeos e não faço o download. Se há páginas e perfis que de hora em hora publicam coisas desagradáveis aos meus olhos, deixo de seguir ou bloqueio. E se algo me interessa, e eu também quero dar voz e ênfase e tal notícia, procuro saber o real motivo da mesma, a verdade, os lados, a importância que isso tem em minha vida e para demais pessoas, para só então, compartilhar. O mundo está transbordando de maldade, e o que eu puder evitar para aumentar isso, o farei.
Coitado do Ricardo (caso ele exista), da Engmax Construtora, que teve seu telefone divulgado para todo Brasil, não queria, de maneira alguma, estar na pele dele. Na atual crise do desemprego, imagino quantas mensagens e ligações deva ter recebido.

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